25.7.13

Ironia Hipster

O hipster assombra todas as ruas da cidade e cidades universitárias. Manifestando uma nostalgia por épocas que ele mesmo jamais viveu, esse arlequim contemporâneo se apropria do que há de mais ultrapassado no que diz respeito à moda (bigodes, shorts minúsculos), quinquilharias (bicicletas de marcha única, toca-discos portáteis) e hobbies (produção artesanal de bebidas, tocar trombone). Ele cultiva a esquisitice e o constrangimento e passa por várias etapas de autoavaliação antes mesmo de tomar qualquer decisão. O hipster é um pesquisador das formas sociais, um estudioso do que é cool. Ele estuda implacavelmente, escavando em busca daquilo que não foi ainda descoberto pelo público geral. Uma citação ambulante, suas roupas referem-se a algo muito além de si próprias. Ele tenta negociar o antigo problema da individualidade, não por meio de conceitos, mas a partir de coisas materiais. É um alvo fácil para piadas. No entanto, rir do hipster é só uma forma diluída de sua própria aflição. Ele não é mais que um sintoma e uma das manifestações mais extremas do estilo de vida irônico. Para muitos americanos nascidos nas décadas de 1980 e 1990 – membros da Geração Y –, caucasianos de classe média em particular, a ironia é o modo primário para se lidar com a vida. Basta habitar um espaço público, virtual ou concreto, para ver o quanto esse fenômeno se encontra disseminado. A publicidade, a política, a moda, a televisão: quase todas as categorias da realidade contemporânea exibem essa vontade de ironia. Tomemos como exemplo uma propaganda que se anuncia como propaganda, faz piada com o próprio formato e tenta atrair seu público-alvo para rir dela e com ela. Ela já reconhece, preventivamente, o próprio fracasso em produzir algo com sentido. Nenhum ataque pode ser feito contra ela, pois ela própria já se mostrou vencida. O molde irônico funciona como um escudo contra a crítica. O mesmo vale para o estilo de vida irônico. A ironia é o modo mais autodefensivo que existe, pois permite que a pessoa evite a responsabilidade das suas escolhas, estéticas ou não. Viver ironicamente é esconder-se em público. É uma forma, flagrantemente indireta, de subterfúgio – que significa etimologicamente “fugir em segredo” (subter + fúgio). De algum modo, tornou-se insuportável, para nós, lidar com as coisas de maneira direta.


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